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14
jun
11

Pra funcionar

Para as coisas virarem realidade o esforço necessário tem que ser menor do que o esforço realizado.

E quando se trata do governo ou o necessário tem que ser mínimo ou o realizado tem que gerar um lucro absurdo (não necessariamente para a sociedade).

Apesar das enormes mudanças ocorridas nos últimos cinco anos, São Paulo ainda não é uma cidade amiga dos ciclistas. Ainda não é seguro nem confortável pedalar por aqui.

A geografia é perfeita. Não somos como Copenhagen ou Ubatuba, tudo plano. Mas quem acha que ladeiras são um empecilho é quem não pedala. Não sabe que depois de pouco tempo pedalando você deixa de ter medo das subidonas e começa a procurá-las, para aumentar o desafio, a diversão.

O clima é, na minha opinião, ótimo. Não é tão quente quanto no Rio e as chuvas são bastante previsíveis. Só a poluição e a secura do ar que incomodam um pouco.

O único problema real é o convívio com os veículos motorizados.

bicicletinhas pintadas pelos ciclistas e apagadas pelo serviço público. motivação de ambas as partes: segurança

Faz parte da cultura e da organização viária a preferência absoluta ao carro. A própria CET, compania de engenharia de tráfego, que deveria cuidar do tráfego de gente, funciona exclusivamente para o tráfego de automóveis. Poe a fluidez (sonhada, mas estruturalmente impossível) na frente da vida.

Essa política pública é tão óbvia que qualquer motorista se acha no direito de por em risco a vida dos ciclistas. As finas “educativas”, as ameaças dolosas, os insultos e a incapacidade de enxergar fazem parte da rotina.

A bicicleta está na moda. O mundo já está tão zuado que ficou impossível para políticos e empresários falar em público sem demonstrar preocupações ecológicas. Quem não faz o seu greenwashing tá fora. A bicicleta é a menina dos olhos. É cool, é sustentável, é moderna, é barata, é bonita. Pode reparar como ela aparece em tudo quanto é tipo de comercial de tv. Lá no fundo sempre tem uma bicicleta passando livre, leve e solta.

Medidas simples como estacionamentos de bicicletas em estações de trem e ciclofaixas aos domingos são brutos sucessos.

policiais ciclistas de Glasgow

Sendo assim, não dá pra entender como e por que a prefeitura de São Paulo ainda não tomou duas medidas estupidamente simples, ofensivamente baratas e com retorno de imagem (votos) líquido e certo: a inclusão da bicicleta na sinalização viária e o policiamento de bicicleta.

Eles vivem repintando as ruas (pelo menos no centro), custaria quase zero incluir sinalização indicativa de que existe um veículo estranho chamado bicicleta que também tem o direito de circular por ali.

A cidade de Glasgow, que é uma das várias cidades que já experimentou o sucesso de botar os policias pra pedalar, chegou a brilhante conclusão que pelo preço de comprar e manter UMA ÚNICA viatura é possível manter na rua QUINZE policiais de bicicleta. Faça a matemática. É ridículo.

Essas duas medidas demorariam o que, seis meses para serem colocadas em prática? Elas acabariam de vez com a idéia errada de que as bicicletas não pertencem às ruas. Tornariam o trânsito e, consequentemente, a cidade mais humanos. Menos gente morreria. Mais gente se empolgaria a pedalar. A obesidade da população diminuiria. Haveria menos poluição. A polícia se aproximaria das pessoas. Não consigo ver um bom motivo para não fazer.

Não conheço nada dos meandros da política, mas se eu fosse cicloativista deixaria de lado todo o resto e me pautaria exclusivamente nesses dois pontos. Todo o resto viria a roldão.




Ô mundão