Posts Tagged ‘bicicleta

17
set
12

Para Copenhagenzar

Quando uma cidade cria alguma condição, mesmo que local, para o uso da bicicleta, esse uso cresce naturalmente, de forma exponencial. Esse crescimento gera pressão e condições para que novas medidas sejam tomadas e, assim, o crescimento continua exponencial.

Uma consequência direta disso é que o trânsito melhora para os carros também.

Hoje, qualquer pessoa normal, presa dentro de um carro em um congestionamento, ou se arrepende de não estar numa bicicleta, ou sonha com uma cidade em que ela consiga se locomover pedalando, ou sonha em comprar um trator e passar por cima de todo mundo.

 

É preciso criar condições para que as pessoas deixem o carro e usem outros modais. Mas também é preciso criar dificuldades para que as pessoas usem o carro.

O importante é ter diversidade e várias opções de escolha. Cada uma com seu preço.

01
jul
12

Surfistas do Tietê

Surfar em São Paulo é impossível?

Não precisaria ser. Nossa cidade é muito bem servida de rios. Tem muita água passando por aqui. Se nós cuidássemos dela, poderíamos nadar como em Copenhague ou surfar como em Munique.

É uma questão de vontade.

Eisbach é um canal construido em Munique. Passa dentro de um parque. Essa onda foi construida para diminuir a velocidade da água.

A temperatura média da cidade é 9ºC. Médias máximas de 22ºC no verão. E a galera surfa lá.

Surfa porque conquistou o direito. No começo a polícia não deixava. Confiscava as pranchas e levava todo mundo pra delegacia. Mas a galera não se intimidou. Surgiu uma massa crítica de surfistas que batalhou junto à prefeitura e acabou conseguindo estabelecer esse uso do rio.

Quantos quilômetros de praias nós teríamos se nossos rios fossem limpos?

Imagina que legal o Jack Johnson tomando umas vacas no Tamanduateí? Ou no Anhangabaú? Ou no Pirajussara.

Antigamente o sonho da minha vida era ir trabalhar de bicicleta. Isso obviamente não passava de um sonho. Agora o sonho da minha vida é parar de ir trabalhar de bicicleta e começar a ir de caiaque.

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12
jun
12

O amor é caos

20
mar
12

Bike is cool

Portland, Oregon, deve ser a cidade mais bacana dos Estados Unidos.

Já ouviu falar de Zoobomb?

15
fev
12

Por que????????

É uma propaganda. Mas que propaganda.

Não existe um por quê. O único por quê é o seu porque.

“Existe o certo e o errado e a felicidade fica em qualquer lugar do resto”, dr. Hipnose.

07
fev
12

Cidades para pessoas

A jornalista Natália Garcia é um bom exemplo de gente que não tem só iniciativa. Ela tem o mais importante pra conseguir o que se deseja: ela tem acabativa.

Ao trocar o carro pela bicicleta, sem imaginar onde estava se metendo, mudou sua vida. Descobriu uma nova cidade que vivia escondida embaixo de seus olhos e decidiu que essa maravilha não podia ficar só com ela. E para conseguir mudar o mundo a sua volta, criou um projeto maravilhoso, que mistura aprendizagem, diversão e atuação política, não necessariamente nessa mesma ordem.

Este vídeo abaixo é a palestra que ela fez num TED, explicando um pouquinho de sua trajetória.

16
jun
11

Espaço público. Espaço para as pessoas.

Jan Gehl, arquiteto dinamarquês que criou a Copenhaguização das cidades

O argumento ecológico sempre me pareceu o mais fraco para convencer as pessoas a largarem (pelo menos um pouco) o automóvel. E a bicicleta não é a única alternativa. Andar a pé, porra!

O espaço público é pras pessoas. Pras pessoas chegarem onde têm que ir, pras pessoas se encontrarem, se conhecerem, discutirem. Pra fazerem o que quiserem. Pra aprenderem!

Eu tive a experiência de ter a rua como parte da minha vida na infância e isso ajudou a construir meu caráter. Eu ia pro Ibirapuera pedalando sozinho, emprestava minha bicicleta pro maloquero desconhecido dar um rolê, ele me devolvia a bicicleta, a gente jogava bola com uns tiozão desocupados que estavam por lá e eu ia embora.

Meus pais nem imaginavam o que eu fazia. E eu não fazia nada de mais. E eles não se preocupavam.

E isso foi a só vinte anos.

A vinte anos a população mundial tinha um bilhão de pessoas a menos.

Qual noção de espaço terão as futuras gerações, criadas em apartamentos e se comunicando com as pessoas através de meios eletrônicos?

Meu pai estudou a vida inteira na escola pública. Entre seus colegas estavam o filho do dono da maior rede de lojas de roupas da cidade, o filho de um  juíz federal e um monte de pé-rapado.

Eu fui o aluno bolsista duro numa escola particular de classe média. Não era o único nessa situação. E apesar de ser chato contar que passei as férias na casa da minha vó no Taboão da Serra enquanto meus amiguinhos foram pra fora do país, era muito legal estudar lá.

Hoje as escolas estão segregadas por classes sociais. Deixaram de ser um espaço público rico, multiplo. Seus alunos não convivem mais com as diferenças. Como vão aprender a respeitá-las? Teoricamente? As escolas morrem de medo dos pais que morrem de medo de tudo. Onde as crianças vão aprender a se virar?

Estamos carentes de espaços públicos.

14
jun
11

Pra funcionar

Para as coisas virarem realidade o esforço necessário tem que ser menor do que o esforço realizado.

E quando se trata do governo ou o necessário tem que ser mínimo ou o realizado tem que gerar um lucro absurdo (não necessariamente para a sociedade).

Apesar das enormes mudanças ocorridas nos últimos cinco anos, São Paulo ainda não é uma cidade amiga dos ciclistas. Ainda não é seguro nem confortável pedalar por aqui.

A geografia é perfeita. Não somos como Copenhagen ou Ubatuba, tudo plano. Mas quem acha que ladeiras são um empecilho é quem não pedala. Não sabe que depois de pouco tempo pedalando você deixa de ter medo das subidonas e começa a procurá-las, para aumentar o desafio, a diversão.

O clima é, na minha opinião, ótimo. Não é tão quente quanto no Rio e as chuvas são bastante previsíveis. Só a poluição e a secura do ar que incomodam um pouco.

O único problema real é o convívio com os veículos motorizados.

bicicletinhas pintadas pelos ciclistas e apagadas pelo serviço público. motivação de ambas as partes: segurança

Faz parte da cultura e da organização viária a preferência absoluta ao carro. A própria CET, compania de engenharia de tráfego, que deveria cuidar do tráfego de gente, funciona exclusivamente para o tráfego de automóveis. Poe a fluidez (sonhada, mas estruturalmente impossível) na frente da vida.

Essa política pública é tão óbvia que qualquer motorista se acha no direito de por em risco a vida dos ciclistas. As finas “educativas”, as ameaças dolosas, os insultos e a incapacidade de enxergar fazem parte da rotina.

A bicicleta está na moda. O mundo já está tão zuado que ficou impossível para políticos e empresários falar em público sem demonstrar preocupações ecológicas. Quem não faz o seu greenwashing tá fora. A bicicleta é a menina dos olhos. É cool, é sustentável, é moderna, é barata, é bonita. Pode reparar como ela aparece em tudo quanto é tipo de comercial de tv. Lá no fundo sempre tem uma bicicleta passando livre, leve e solta.

Medidas simples como estacionamentos de bicicletas em estações de trem e ciclofaixas aos domingos são brutos sucessos.

policiais ciclistas de Glasgow

Sendo assim, não dá pra entender como e por que a prefeitura de São Paulo ainda não tomou duas medidas estupidamente simples, ofensivamente baratas e com retorno de imagem (votos) líquido e certo: a inclusão da bicicleta na sinalização viária e o policiamento de bicicleta.

Eles vivem repintando as ruas (pelo menos no centro), custaria quase zero incluir sinalização indicativa de que existe um veículo estranho chamado bicicleta que também tem o direito de circular por ali.

A cidade de Glasgow, que é uma das várias cidades que já experimentou o sucesso de botar os policias pra pedalar, chegou a brilhante conclusão que pelo preço de comprar e manter UMA ÚNICA viatura é possível manter na rua QUINZE policiais de bicicleta. Faça a matemática. É ridículo.

Essas duas medidas demorariam o que, seis meses para serem colocadas em prática? Elas acabariam de vez com a idéia errada de que as bicicletas não pertencem às ruas. Tornariam o trânsito e, consequentemente, a cidade mais humanos. Menos gente morreria. Mais gente se empolgaria a pedalar. A obesidade da população diminuiria. Haveria menos poluição. A polícia se aproximaria das pessoas. Não consigo ver um bom motivo para não fazer.

Não conheço nada dos meandros da política, mas se eu fosse cicloativista deixaria de lado todo o resto e me pautaria exclusivamente nesses dois pontos. Todo o resto viria a roldão.

29
maio
11

Infância

batendo um papo durante o rolê

Minha irmã, professora de crianças, acaba de me informar que hoje em dia a maioria das crianças de 8 ou 9 anos ou não sabem andar de bicicleta ou ainda usam rodinhas.

Quase nenhuma tem a bicicleta como o brinquedo principal.

E você já viu alguma criança recusar um convite pra um pedal? Só que elas, em geral, não tem a autonomia necessária para sair pedalando. Então a responsabilidade é das pessoas que deveriam levá-las até o espaço apropriado.

Por mais que o papel da rua como espaço de convívio humano tenha sido destruído, outros espaços existem e novos podem e devem ser criados. As crianças não precisam de mais do que um plano de vinte metros quadrados pra pedalar. Uma quadra de esportes já tá bom.

Como e quando elas vão aprender a usar o corpo, a ter equilíbrio, a ter noção espacial?

Pelo visto temos outros problemas graves além do analfabetismo.

somos eternas crianças

21
maio
11

A tropa

15
maio
11

Pessoas para bicicletas

Belo vídeo encontrado pelo meu amigo Alberto.

01
abr
11

Copenhaguizar

Copenhague é uma das cidades grandes mais frias do mundo. Além das temperaturas polares, chove bastante e em dezembro o Sol aparece por menos de 50 horas. Copenhague não é uma cidade para bicicletas, certo?

Completamente errado.

Muito se fala das bicicletas de Amsterdã (e com razão), mas a cidade dinamarquesa é tão ou mais amiga das bicicletas do que a holandesa.

O interessante é que não foi sempre assim. Lá também os carros expulsaram as pessoas das ruas. E também precisou de um cara de peito pra devolver o espaço público para a vida.

Lendo esse ótimo texto do Denis Russo Burgierman, acabei de descobrir que esse cara macho se chama Jan Gehl. E o trabalho dele foi tão bem sucedido, que o governo australiano o contratou para copenhaguizar as principais cidades de lá. Inclusive copenhaguizar virou verbo. Dos mais sonhados entre ciclistas, pedestres, cachorros, pais de crianças pequenas, cadeirantes, vovós… e todos que querem viver em um espaço mais humano.

Meu sonho é tomar uma cerveja num charmoso bar, ao pôr do Sol, em pleno calçadão da avenida Paulista. Ou no vale do Anhangabaú. Praça da Sé.

E quem sabe chegar lá remando pelos rios e córregos hoje soterrados da nossa cidade.

31
mar
11

A cidade e a bicicleta

19
jan
11

Saúde

Esporte é saúde?

Há controvérsias.

Não é recomendável, mas pra ciclista não tem bafómetro.

14
dez
10

Café

Décadas atrás, um tipo de corridas de bicicletas era muito comum: as corridas de vários dias. Aconteciam geralmente em velódromos e não havia uma quantidade definida de voltas. O tempo é que era determinado. Seis dias, dois dias… Ganhava quem desse mais voltas nesse tempo.

Só que, numa corrida dessas, não se sai correndo loucamente. É preciso planejar o gasto de energia. Então os caras tinham momentos de grande esforço e momentos de descanso, alimentação, hidratação, sono e todas as outras necessidades de um ser humano normal.

A maioria dessas necessidades não era realizada encima da bicicleta, evidentemente, mas cenas como a da foto era muito comuns.

Uma volta a meio quilómetro por hora é melhor do que nenhuma volta. E quem precisa de mesa pra ler jornal e tomar café?

07
dez
10

Medalha pra Falzoni

A ciclo-reporter-ativista bonagentilíssima Renata Falzoni será homenageada hoje pela Câmara Municipal de Sampaulo.

Muitas pessoas tão nessa a muito tempo e foram e sempre serão muito importantes, merecem também ser homenageadas.

Mas a Falzoni tá nessa a uma vida.

“Há pessoas que lutam um dia. E são bons.

Há pessoas que lutam um ano. E são melhores.

Há aqueles que lutam muitos anos. E são muito bons.

Mas há os que lutam toda a vida.

Esses são os impressindíveis”.

Bertold Brecht

 

08
nov
10

Soninha

Simpatizo com a Soninha desde a época em que ela era vj da Mtv.

Ela é uma mulher que comenta futebol, anda de bicicleta, é budista e meteu a cara na política. Ela está muito, muito longe do lugar comum. É uma pessoa corajosa, que apanha, mas não deixa de dar sua contribuição pessoal.

Tive a honra de conhecê-la na bicicletada (sem ela, não haveria a praça do ciclista) e pude constatar três coisas: é tão simpática ao vivo quanto a imagem televisiva que eu fazia dela; mesmo sem vaidade é linda e muito feminina; e é muito coerente, coisa tão rara na política e na mídia.

Quando ela começou um blog pela folha/uol, acompanhei do primeiro ao último post.

E hoje, pesquisando sobre a credibilidade de um spam que minha chefa me mandou, eis que encontro esse vídeo ai encima.

E na pesquisa pra esse post tive a grata surpresa de encontrar o blog (quase) atual dela. Tem também o do gabinete.

Recomendo.

E pergunto: ser de esquerda, anarquista e revolucionário é muito legal, mas nesse picadeiro em chamas, onde fica a esquerda, a direita, pra cima, pra baixo, o norte…?

10
out
08

Porque eu gosto tanto de andar de bicicleta em São Paulo

Apesar de todos os perigos e durezas, são muitos os motivos. Esta semana foi farta deles.

1 – É incrível encontrar amigos no meio da rua. Aconteceu duas vezes esta semana. Terça-feira, indo trabalhar, encontrei o simpático e sério Gustavo na porta do Ibirapuera. Quarta-feira, voltando do trabalho, encontrei o Siqueira exatamente no meio da rua. No meio da rua mesmo. Eu tava atravessando a pé e vi ele chegando, me posicionei como um rebatedor de basebol, como se fosse dar uma guardachuvada nele. Normalmente são conversas rápidas, todo mundo tá sempre atrasado nesta cidade. Mas é gostoso, é bom encontrar um amigo no meio do caos, fico com a sensação de que ainda resta alguma humanidade nisso tudo.

A um tempo atrás eu vivia topando com o Pestana aqui nos arredores da USP. Ficávamos horas conversando. Fazíamos isso quando éramos pequenos e a bike era nosso passo mais largo. Muito curioso encontrar o mesmo amigo, no mesmo veículo, num bairro diferente. Ambos carecas e pançudos, mas ainda muito meninos.

2) Poder passar por dentro do Ibirapuera pra ir pro trabalho não tem preço.

3) Alguns amigos bicicleteiros se encontraram pelas ruas numa noite dessas e resolveram passear. Foram parar no Pátio do Colégio e bizarramente encontraram um piano lá. Isso, encontraram um piano no meio da rua. O registro desse momento lúdico está aqui.

Isso é a medida do humano. É por isso que eu não cogito não andar de bicicleta. É por isso que sei que outra vida é possível. Nós não estamos esperando que ela chegue, nós já estamos vivendo uma vida mais bonita. Sem custos adicionais, sem medos, sem solidão, sem estresse.

Você simplesmente nunca vai viver essas emoções dentro de um carro!!

07
out
08

Bem vinda dona Fênix

Adoro quando descubro que tem gente muito mais louca por bicicletas do que eu. O doido do Pastor Canna já deixou seu nome na história com a sua incrível Caloi 1. Agora me aparece o Cahuê, um verdadeiro artesão, reformador (ou seria ressuscitador) de bicicletas. Dê uma olhada no blog dele. O capricho chega a dar inveja. Só para deixar um gostinho, o antes e o depois de uma Ceci de 85.

23
set
08

O Canna é meu pastor e nada me faltará

História que o Canna mandou pra lista da bicicletada e fez todo mundo chorar. Será que eu devia ter pedido a permissão dele pra publicar?

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E pensando aqui, me lembro de uma passagem uns tempos atrás:

Estava na bicicletaria, trocando meus pneus 2.0 novinhos por dois 1.5 slicks, pois os largos não me agradavam. Pagava R$ 25 paus em cada pneu, mais as câmeras novas…sem pensar muito que estava gastando uns 70 reais ali, graças a Deus não me fazem falta.

Enquanto aguardo, um rapaz bem simples, com uniforme de empresa e uma bike toda fudida chega perguntando quanto era um pneu novo. A bike dele era uma mountain bike toda ferrada, com roda dianteira com aro diferente da traseira, os pneus estavam um caco, sem freio traseiro…

Puxei assunto e ele me disse que ia para o trabalho todo dia de bicicleta, fiz uns cálculos e ele pedalava uns 40km por dia. Disse que fazia supermercado, tudo ele ia de bike pois era mais rápido e fazia bem pra saúde.

Ao saber o preço do pneu mais barato, descartou a compra pois nitidamente não tinha a grana para comprá-lo.

A minha ficha caiu. Ofereci meus dois pneus com as respectivas câmeras. Ele achou meio estranho e perguntou quanto era. Disse que não era nada, eu ia entulhar isso em casa e pedi pro cara da bicicletaria arrumar uma roda 26 usada pra ele montar com os pneus que dei.

O cara abre a carteira, saca os únicos 10 reais que tinha e me oferece. Me senti um lixo. Falei pra ele que ficaria muito feliz em saber que ele iria usar os pneus e que dos amigos não se cobra nada.

Os olhos do cara encheram de lágrimas…

Eu vivo lamentando os números da empresa, que eu perdi ali, que eu ganhei ali…catzo, eu tenho um monte de bicicletas, todas do jeito que quero, poderia me sentir um cara realizado, e acho que pedalo muita coisa…

Eu sou na realidade um merda…quem pedala são estes guerreiros. Eles são os ciclistas urbanos, percorrem distâncias diárias gigantes com uns trambolhos daqueles, só com freio traseiro. Nem fazem idéia do que a bicicleta representa no trânsito ou os direitos que têm, eles só querem pedalar e chegar vivos em casa.

Tem situações que fazem a gente pensar: o que faz encontramos estas pessoas para deixarmos de reclamar um pouco e olhar pro cara que tá do seu lado?

Acho que se as bicicletas não forem para todos, não serão para ninguém.

É isso.

Canna

23
set
08

Manifesto dos invisíveis

Não poderia começar de outro jeito. Pelo orgulho de fazer parte disso. Se quiser fazer parte também, siga por aqui.

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Motorista, o que você faria se dissessem que você só pode dirigir em algumas vias especiais, porque seu carro não possui airbags? E que, onde elas não existissem, você não poderia transitar?

Para nós, cidadãos que utilizam a bicicleta como meio de transporte, é esse o sentimento ao ouvir que “só será seguro pedalar em São Paulo quando houver ciclovias”, ou que “a bicicleta atrapalha o trânsito”. Precisamos pedalar agora. E já pedalamos! Nós e mais 300 mil pessoas, diariamente. Será que deveríamos esperar até 2020, ano em que Eduardo Jorge (secretário do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo) estima que teremos 1.000 quilômetros de ciclovias? Se a cidade tem mais de 17 mil quilômetros de vias, pelo menos 94% delas continuarão sem ciclovia. Como fazer quando precisarmos passar por alguma dessas vias? Carregar a bicicleta nas costas até a próxima ciclovia? Empurrá-la pela calçada?

Ciclovia é só uma das possibilidades de infra-estrutura existentes para o uso da bicicleta. Nosso sistema viário, assim como a cidade, foi pensado para os carros particulares e, quando não ignora, coloca em segundo plano os ônibus, pedestres e ciclistas. Não precisamos de ciclovias para pedalar, assim como carros e caminhões não precisam ser separados. O ciclista tem o direito legal de pedalar por praticamente todas as vias, e ainda tem a preferência garantida pelo Código de Trânsito Brasileiro sobre todos os veículos motorizados. A evolução do ciclismo como transporte é marca de cidadania na Europa e de funcionalidade na China. Já temos, mesmo na América do Sul, grandes exemplos de soluções criativas: Bogotá e Curitiba.

Não clamamos por ciclovias, clamamos por respeito. Às leis de trânsito, à vida. As ruas são públicas e devem ser compartilhadas entre todos os veículos, como manda a lei e reza o bom senso. Porém, muitas pessoas não se arriscam a pedalar por medo da atitude violenta de alguns motoristas. Estes motoristas felizmente são minoria, mas uma minoria que assusta e agride.

A recente iniciativa do Metrô de emprestar bicicletas e oferecer bicicletários é importante. Atende a uma carência que é relegada pelo poder público: a necessidade de espaço seguro para estacionar as bikes. Em vez de ciclovias, a instalação de bicicletários deveria vir acompanhada de uma campanha de educação no trânsito e um trabalho de sinalização de vias, para informar aos motoristas que ciclistas podem e devem circular nas ruas da nossa cidade. Nos cursos de habilitação não há sequer um parágrafo sobre proteger o ciclista, sobre o veículo maior sempre zelar pelo menor. Eventualmente cita-se a legislação a ser decorada, sem explicá-la adequadamente. E a sinalização, quando existe, proíbe a bicicleta; nunca comunica os motoristas sobre o compartilhamento da via, regulamenta seu uso ou indica caminhos alternativos para o ciclista. A ausência de sinalização deseduca os motoristas porque não legitima a presença da bicicleta nas vias públicas.

A insistência em afirmar que as ruas serão seguras para as bicicletas somente quando houver milhares de quilômetros de ciclovias parece a desculpa usada por muitos motoristas para não deixar o carro em casa. “Só mudarei meus hábitos quando tiver metrô na porta de casa”, enquanto continuam a congestionar e poluir o espaço público, esperando que outros resolvam seus problemas, em vez de tomar a iniciativa para construir uma solução.

Não podemos e não vamos esperar. Precisamos usar nossas bicicletas já, dentro da lei e com segurança. Vamos desde já contribuir para melhorar a qualidade de vida da nossa cidade. Vamos liberar espaços no trânsito e não poluir o ar. Vamos fazer bem para a saúde (de todos) e compartilhar, com os que ainda não experimentaram, o prazer de pedalar.

Preferimos crer que podemos fazer nossa cidade mais humana, do que acreditar que a solução dos nossos problemas é alimentar a segregação com ciclovias. Existem alternativas mais rápidas e soluções que serão benéficas a todos, se pudermos nos unir para construi-las juntos.

A rua é de todos. A cidade também.

Nós, que também somos o trânsito:


Alberto Pellegrini
Alexandre Afonso
Alexandre Catão
Alexandre Loschiavo (Sampabiketour)
Alex Gomes (U-Biker)
Alonzo “chascon” Zarzosa (Terrorista Latino)
Ana Paula Cross Neumann (Aninha)
André Mezabarba – BH
André Pasqualini (CicloBR)
Antonio Lacerda Miotto (Pedalante)
Aylons Hazzud
Ayrton Sena Santos do Nascimento
Beto Marcicano (Super Ação!)
Bruno Canesi Morino
Bruno Gola

Carolina Spillari

Célia Choairy de Moraes
Chantal Bispo (Eu vou voando)
Daniel Ingo Haase (FAHRRAD)
Daniel Albuquerque
Danilo May
Eduardo Lopes Merege
Eduardo Marques Grigoletto (CicloAtivando)
Evelyn Araripe
Fabiano Faga
Fabrício Zuccherato (pedal-driven)
Flávio “Xavero” Coelho
Felipe Aragonez (Falanstérios)
Felipe Martins Pereira Ribeiro
Fernando Guimarães Norte
Frank Barroso (Movimento Cidade Futura)
Gustavo Fonseca Meyer
Hélio Wicher Neto
Jeanne Freitas Gibson
João Guilherme Lacerda
José Alberto F. Monteiro
Juliana Mateus
Juliana Diehl
Jupercio Juliano de Almeida Garcia
Laércio Luiz Muniz (Onipresente Ausente)
Leandro Cascino Repolho
Leandro Kruszielski (meandros)
Leandro Valverdes
Leonardo Américo Cuevas Neira
Luciano César Marinho
Lucien Constantino
Luis Sorrilha (BIGSP)
Luiz Humberto Sanches Farias
Marcelo Império Grillo (MIG)
Márcia Regina de Andrade Prado
Márcio Campos
Mário Canna Pires
Matias Mignon Mickenhagen
Mathias Fingermann
Maurício Rodrigues de Souza
Otávio Remedio
Paula Cinquetti
Polly Rosa
Renata Falzoni (falzoni.comnightbikersespn/renatafalzoni )
Renato Panzoldo
Ricardo Shiota Yasuda
Ricardo Sobral (Bicicleta na Cidade)
Rodrigo Sampaio Primo
Ronaldo Toshio
Silvio Duarte Moris (Silvio’s site)
Silvio Tambara (na medida do humano)
Vado Gonçalves (cicloativismo)
Vitor Leal Pinheiro (Quintal)
Willian Cruz (Vá de Bike!)




Ô mundão