Jan Gehl, arquiteto dinamarquês que criou a Copenhaguização das cidades
O argumento ecológico sempre me pareceu o mais fraco para convencer as pessoas a largarem (pelo menos um pouco) o automóvel. E a bicicleta não é a única alternativa. Andar a pé, porra!
O espaço público é pras pessoas. Pras pessoas chegarem onde têm que ir, pras pessoas se encontrarem, se conhecerem, discutirem. Pra fazerem o que quiserem. Pra aprenderem!
Eu tive a experiência de ter a rua como parte da minha vida na infância e isso ajudou a construir meu caráter. Eu ia pro Ibirapuera pedalando sozinho, emprestava minha bicicleta pro maloquero desconhecido dar um rolê, ele me devolvia a bicicleta, a gente jogava bola com uns tiozão desocupados que estavam por lá e eu ia embora.
Meus pais nem imaginavam o que eu fazia. E eu não fazia nada de mais. E eles não se preocupavam.
E isso foi a só vinte anos.
A vinte anos a população mundial tinha um bilhão de pessoas a menos.
Qual noção de espaço terão as futuras gerações, criadas em apartamentos e se comunicando com as pessoas através de meios eletrônicos?
Meu pai estudou a vida inteira na escola pública. Entre seus colegas estavam o filho do dono da maior rede de lojas de roupas da cidade, o filho de um juíz federal e um monte de pé-rapado.
Eu fui o aluno bolsista duro numa escola particular de classe média. Não era o único nessa situação. E apesar de ser chato contar que passei as férias na casa da minha vó no Taboão da Serra enquanto meus amiguinhos foram pra fora do país, era muito legal estudar lá.
Hoje as escolas estão segregadas por classes sociais. Deixaram de ser um espaço público rico, multiplo. Seus alunos não convivem mais com as diferenças. Como vão aprender a respeitá-las? Teoricamente? As escolas morrem de medo dos pais que morrem de medo de tudo. Onde as crianças vão aprender a se virar?
Estamos carentes de espaços públicos.